Nos shows, como o realizado recentemente em Brasília, adolescentes e cinquentões se empolgam com melodias românticas
Eram quase três da manhã de ontem e um grupo de cerca de 50 pessoas não desgrudava da grade que protegia a entrada do camarim no Marina Hall. O ânimo e a disposição eram os mesmos que eles, todos fãs da banda Roupa Nova, demonstraram quando o sexteto subiu ao palco, para uma apresentação de pouco mais de duas horas (iniciada à 0h25).
“É sempre assim no final dos shows, com um montão de gente querendo tirar uma foto, pegar um autógrafo”, relata a professora Lindsey Soares, 30 anos, membro do fã-clube brasiliense do Roupa. Vestidos a caráter, com camisetas pretas estampadas com o nome da banda e uma imagem da Catedral, eles queriam se despedir dos ídolos, com quem passaram 40 minutos na tarde de sábado, em encontro realizado no hotel onde a banda se hospedou. “Ir ao show deles com o fã-clube é muito melhor, a energia é mais contagiante”, acrescenta a pedagoga Elisa de Azevedo Micolato, 27 anos. “Não é porque sou fã, mas eles são excelentes. São simpáticos, divertidos, sempre nos recebem muito bem”, continua Lindsey.
Nem todas as aproximadamente quatro mil pessoas presentes no show nutrem paixão tão intensa pelo grupo carioca, mas sabiam exatamente o motivo que as levou a comprar ingressos para o evento: ouvir alguns dos sucessos acumulados pelo Roupa Nova desde o primeiro LP, lançado em 1981. Presente no local, de adolescentes a cinquentões, todos tinham pelo menos um pop romântico na ponta da língua.
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As amigas Ângela Saraiva, de 40 anos, e Luíza Miranda, de 42, tentavam encontrar um lugar mais perto do palco — área disputada e preenchida duas horas antes do show. “Eu os ouço desde que surgiram. Eles têm músicas marcantes, cujo conteúdo me toca bastante. Gosto das letras e das melodias. Fui ao show acústico, mas neste vou vê-los de pertinho. Estou me sentindo uma adolescente!”, vibrava Ângela, usando uma bandana com o nome do grupo. O sentimento era compartilhado por Luíza. “Quero pular em todas as músicas.”
Romantismo
A estudante do ensino médio Beatriz Bukvic, de 17 anos, se surpreendeu com a quantidade de jovens presentes no show. “Aprendi a gostar deles porque meus pais ouviam muito”, conta a adolescente, que foi acompanhada de duas amigas, as primas Monique, 20 anos, e Marcela Pupe, 23 anos. “O som deles não chega a ser popular, mas não é exclusivo. Consegue atingir o público mais novo, como nós, e o mais velho também”, observa Monique. Marcela, a única das três que se declarou fã do Roupa Nova, aponta o romantismo das letras como o aspecto das canções que a comove. “Chorar no show? Acho que não. Mas depois de passar o Dia dos Namorados solteira, quem sabe?”, brincou.
Se muitos ali conheceram o Roupa Nova com os pais, nada mais normal o show servir também como programa familiar. A assistente social Cláudia Moraes, de 56 anos, optou pela mesa para quatro pessoas (vendida a R$ 1.000, preço da inteira, com direito a bebida liberada) e foi com a irmã, Rosângela, o cunhado Eugênio Vasconcelos, e a filha do casal, Patrícia. “São músicas da nossa época, trazem recordações. A música brasileira se perdeu muito de lá para cá”, queixa-se Cláudia. “Trouxe a minha filha pra ver se consigo melhorar seu gosto musical. Ela gosta mesmo é de axé. Sou da época em que se fazia música melodiosa”, alfinetou o engenheiro Eugênio, de 56 anos. “Tenho 28 anos e, mesmo com essa idade, gosto da banda desde criança porque ouvia com meu pai. Mas a maioria das pessoas da minha idade não conhece. Às vezes, até cantam uma música ou outra, mas não sabem que são deles. Já ouvi amigas me dizerem que acham o som cafona”, diz Patrícia.
Funcionário do Roupa Nova há 16 anos, há três Paulo Fernando viaja com a banda. Ele é o responsável pela banquinha de CDs, DVDs, camisetas e outras lembranças. Para ele, as influências sonoras do sexteto são bandas que fazem uma música que não envelhece e isso se reflete também no trabalho do grupo carioca. “Isso ajuda na renovação do público. Em recente enquete no nosso site, levantamos a informação de que a maioria do público do Roupa Nova tem entre 7 e 25 anos. Além de serem instrumentistas de qualidade absurda, nas letras, eles traduzem o que a pessoa queria dizer ou estava sentindo. E por isso faz tanto sucesso”, arrisca.
Explicações à parte, quando Paulinho (vocal e percussão), Serginho Herval (bateria e vocal), Nando (baixo e vocal), Kiko (guitarra e vocal), Cleberson Horsth e Ricardo Feghali (ambos, teclados e vocal) sobem ao palco, é impossível não perceber o carisma e a interação com o público. A plateia, por sua vez, não vai embora até o fim do set-list — que passeia por músicas do trabalho mais recente, Roupa Nova em Londres, e por sucessos como Dona, A viagem, Coração pirata e Whisky a go-go, que encerrou a apresentação, antes do bis (um medley formado por clássicos do rock internacional). “A gente vai voltar, e com muito mais amigos”, despediu-se a banda. Difícil duvidar.
Fonte: Correio Braziliense
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