Corre-corre no estádio Mané Garrincha, em 18 de junho de 1988: show-catástrofe marcou a despedida dos palcos
- Parte 1 e 2 do documentário (TV Online do UniCEUB)
Os versos de Gimme shelter desenham um cenário apocalíptico. “Uma tempestade se aproxima e ameaça a minha própria vida”, avisa o narrador da canção, um clássico dos Rolling Stones. Na noite de 18 de junho de 1988, não choveu. O clima em Brasília era de secura e frio. Mas, no Mané Garrincha, a profecia parecia real. No tablado de 28 metros, Renato Russo interpretou um trecho da música de Mick Jagger e Keith Richards, escrita em 1967, como quem anuncia um tempo sombrio. A apreensão já estava no ar. O retorno da Legião Urbana à casa resultou em tumulto e, entre os fãs, frustração. Bateu como um trauma — para Renato e para Brasília. Depois do desastre, a banda não voltaria a se apresentar na capital.
A história do show-catástrofe é resgatada no média-metragem dirigido por Ana Carolina Bussacos, Jania Bárbara de Sousa e Beatriz Leal, que terá exibição única hoje à noite no Espaço Cultural Anatel. O nome, Dê-me abrigo, traduz o título do sucesso dos Rolling Stones. Também sinaliza para o documentário Gimme shelter, de 1970, sobre o desastroso show dos Stones em Altamont (Califórnia), onde um fã foi assassinado pelos motoqueiros do Hell’s Angels, contratados para fazer a segurança. Apesar das referências pomposas, trata-se de um projeto universitário, com ambições modestas. “Enfrentamos várias dificuldades técnicas. Não tínhamos noção alguma de captação de áudio. A edição é caseira. Aprendemos quase tudo por conta própria”, afirma Beatriz.
O espírito “faça você mesmo”, que ditou a produção do filme, poderia parecer uma referência ao punk rock, uma das matrizes sonoras da Legião Urbana. Poderia. As diretoras admitem não ter intimidade com o estilo musical. Curiosamente, não são fãs de Renato Russo. “Eu só gostava das letras românticas. Faroeste caboclo era longo demais”, critica Ana Carolina. Beatriz nunca comprou CDs do grupo. “Conhecia as músicas de videokê e rodinhas de violão. As letras são muito bonitas, mas eu não gostava das melodias”, lembra. Depois do período que passaram envolvidas com o tema (o curta começou a ser produzido em março de 2008), os interesses mudaram sensivelmente. “Não está entre meus favoritos, mas agora tenho algumas músicas em mp3”, afirma Beatriz, que nasceu em São Paulo.
A lenda
Para o trio de diretoras, o show de 1988 era tratado quase como uma “lenda urbana”. Foram apresentadas ao tema numa aula do curso de jornalismo no Centro Universitário de Brasília (UniCeub). A pesquisa espichou e, 16 entrevistas depois, inspirou o projeto final de curso. A ideia inicial era conversar com fãs que assistiram ao espetáculo. O material ganhou porte com depoimentos de Dado Villa-Lobos, produtores do show, jornalistas, da família de Renato e até do ator Bruce Gomlevsky, que interpreta o compositor na peça Renato Russo. Resultado: um filme de 56 minutos foi apresentado à universidade. As alunas passaram com nota máxima.
Os professores, porém, fizeram uma ressalva: o projeto poderia ganhar impacto num formato ainda mais curto. De volta à edição, elas levaram mais um semestre para criar efeitos de animação e reduzir a narrativa a enxutos 36 minutos. “Na hora de juntar as peças e contar essa história, o mais difícil foi desvendar o que era verdade e o que era mentira”, observa Beatriz. O material de arquivo era escasso. Um fã carioca encontrado numa comunidade do Orkut ajudou as diretoras a encontrar poucas cenas do show. Por não ter direito às imagens (captadas principalmente de programas de tevê), o trio não pretende fazer outras exibições do filme nem lançá-lo em DVD. “É um projeto escolar. E não pretendemos acusar ninguém. Queremos apenas conhecer as versões do fato”, afirma Ana Carolina.
"Dê-me abrigo - O último show da Legião Urbana em Brasília"
Documentário de Ana Carolina Bussacos, Jania Bárbara de Sousa e Beatriz Leal
Fonte: Correioweb
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