Visionário programa do repórter virtual Max Headroom está de volta!
Relembre o programa
Mais a introdução da série
Max Headroom era a cara dos anos 80: louro, tinha os cabelos espetados para cima, como Billy Idol. Ele era um combativo repórter de televisão, "num futuro próximo", sempre de terno e óculos escuros, fazendo comentários irônicos e sarcásticos sobre tudo à sua volta, em particular políticos, tele-evangelistas e grandes corporações. Era um personagem tão avançado para o seu tempo que simplesmente não existia. Max Headroom era, de fato, virtual, um avatar, bem antes que essa ideia fosse implantada na cabeça de James Cameron.
E ele está no ar novamente. Acaba de ser lançada uma caixa de cinco DVDs, com tudo sobre essa ficção-científica apresentada pelo primeiro âncora cyberpunk da televisão mundial. "Max Headroom - The complete series" (Shout! Factory, importado) traz a história do personagem criado na Inglaterra, em 1985, e que se transformou em um seriado da televisão americana, exibido pela ABC entre 1987 e 1988.
Considerada por muitos uma série visionária e até mesmo subversiva, "Max Headroom", com sua metalinguagem e abordagem de temas como inteligência artificial, privacidade e celebridades instantâneas, chegou a virar mania nos EUA, sendo até capa da revista "Newsweek" em abril de 87. No Brasil, o programa foi exibido na Globo e, depois, na extinta Rede Manchete. Por aqui, seu visual e sua voz robótica influenciaram atrações como "Doris para maiores", "Armação ilimitada" e "Casseta e Planeta".
- Tinha uma turma na Globo, naquela época, na qual me incluo, que assistia muito ao "Max Headroom", que serviu de inspiração para esquetes e quadros em vários programas, - conta o diretor de TV e VJ Jodele Larcher. - O Max era um personagem fantástico, subversivo mesmo, que contestava, de dentro da televisão, os anúncios e a suposta lavagem cerebral do veículo.
Max, verdade seja dita, não era 100% virtual, embora parecesse. Ele era encarnado pelo ator Matt Frewer (o Moloch de "Watchmen"), usando uma pesada maquiagem e perucas de ângulos retos, tendo ao fundo efeitos especiais em "chroma key", os preferidos da época.
Esse visual de Max foi visto pela primeira vez, em 1985, em "20 minutes into the future", descrito na época pelo britânico Channel 4 como "um filme televisivo cyberpunk". Nele, é contada a história do repórter Edison Carter, que trabalha na poderosa Network 23, numa época em que as redes de televisão comandam os governos e, por tabela, o resto do mundo (os aparelhos de TV, por exemplo, não têm botão de desligar).
- O fato de deixarmos nossos computadores ligados o dia inteiro e vivermos num mundo cheio de câmeras de rua nos filmando mostra como o programa era perturbadoramente visionário - afirma o diretor de vídeo e museógrafo Marcelo Dantas.
Carter sofre um acidente de carro enquanto se dirigia para uma reportagem (um escândalo, envolvendo sua própria emissora) e é considerado morto pelos executivos da Network 23. Eles pedem, então, que um hacker transfira o conteúdo do seu cérebro para um computador, preocupados com as informações que o repórter pudesse ter obtido. Criam, assim, uma versão virtual ou um avatar de Carter.
Carter, porém, desperta no hospital, se recupera e passa a usar seu avatar para fazer aparições surpresas numa TV pirata, onde segue, nos bastidores, fazendo reportagens investigativas. E a partir daí, destila toda sua verve contra as grandes corporações (em particular a Network 23) e o universo que as mantém.
- Eu achava o Max Headroom incrível. Não havia como deixar de reparar nele naquela época - conta o músico e escritor Fausto Fawcett, ex-roteirista de "Juba e Lula". - Seria muito legal ver um personagem como ele hoje, na televisão, fazendo análises de políticos e celebridades.
A caixa de DVDs traz, além de todos os episódios da série, extras com depoimentos dos diretores, produtores e elenco, além de um documentário sobre a criação do personagem e um cartão em 3D lenticular (que dá a impressão que a imagem está se mexendo) de Max.
Não há, porém, menção a um fato em que ficção virou um show de realidade. Na noite de 22 de novembro de 1987, um homem, usando uma máscara de Max, conseguiu interromper o sinal de duas emissoras de Chicago e entrou no ar, fazendo críticas sobre o consumismo. A transmissão pirata durou três horas e o seu autor nunca foi identificado.
- O Max Headroom era inspirador porque talvez tenha sido a última vez em que o futuro foi pensado de forma distante - diz Dantas. - Hoje ele parece muito próximo de todos nós.
Fonte: O Globo
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