Após intervalo de 8 anos, sexteto grava inéditas no lendário estúdio Abbey Road, por onde passaram pesos como Beatles, A-ha e Pink Floyd
Havia oito anos o Roupa Nova não gravava um disco só de músicas inéditas. Quando o fez, foi em grande estilo. No fim de 2008, o grupo passou 16 dias em Londres, parte deles enfurnado no lendário estúdio Abbey Road, onde gravou 10 faixas do recém-lançado "Roupa Nova em Londres". Em outra parte do tempo, filmou em locações da cidade videoclipes para o DVD de mesmo nome, que chega às lojas junto com o CD. A agenda incluiu também a gravação da faixa "She’s leaving home", dos Beatles, no Air Studios, igreja transformada em estúdio por George Martin (produtor dos rapazes de Liverpool).
Uma superprodução que, ironicamente, a banda só conseguiu levar adiante por não estar atrelada a uma grande gravadora. “Se propuséssemos a uma companhia gravar em Londres, iam nos dizer: ‘Pô, tá maluco?’. Com o nosso selo, temos liberdade para dar o passo do tamanho que a gente quer”, avalia o pianista Ricardo Feghali, referindo-se ao Roupa Nova Music, criado em 2004 com o lançamento do Acústico 2004, seguido do Acústico 2006 — os dois traziam inéditas, segundo ele, ofuscadas pelas regravações.
A declaração de independência foi possível graças à solidez de uma carreira que sobrevive a modismos e à crítica avessa ao romantismo assumido pela banda desde que nasceu, nos anos 1970. Feghali, Kiko, Paulinho, Serginho, Nando e Cleberson se uniram para formar o Famks. Em 1981, mudaram o nome para Roupa Nova e desde então lançaram 20 discos — incluindo coletâneas e acústicos. “Fico espantado que, hoje, 75% do nosso público tenha de 14 a 25 anos. Acredito que algumas coisas passaram de pai para filho, como no futebol, em que o filho torce para o time do pai”, brinca o pianista.
Falando sério, Feghali atribui esse dado — apontado por pesquisa encomendada pelo próprio Roupa Nova — aos dois acústicos. “Nesses discos, nossos antigos sucessos ganharam conotação moderna”, explica. É essa rapaziada que lota as cerca de 130 apresentações que a banda faz por ano e que costumam extrapolar o caráter de show para se transformar em baile. “Adoramos fazer show com pista. Quando tem mesa, as pessoas as afastam e vira festa”, conta o músico.
A relação com os fãs — que eles fazem questão de estreitar, recebendo-os no camarim e participando pessoalmente de chats quase diários no site da banda — é uma das explicações para a longevidade do Roupa Nova. Ricardo Feghali cita outra: “Nossa cabeça sempre esteve voltada a fazer carreira em grupo, a ser uma banda que não tem líder. Nossos objetivos são voltados para o Roupa Nova, o direito autoral é dividido por igual, independentemente de quem compôs as músicas”.
Esse espírito coletivo, é claro, está no trabalho feito em Londres. O sexteto assina produção, direção e arranjos. “Temos total liberdade de expressão, cada um dá uma ideia e discutimos o que é melhor”, explica Feghali. As músicas foram compostas em dupla, trio ou solo. Há algumas dançantes, como a ensolarada "Cantar faz feliz o coração", mas prevalecem as baladas românticas que tanto agradam aos fãs. Uma delas, "Reacender", conta com participação dos ingleses Jamie Hartman e Kiris Houston, do Ben’s Brothers. “Em São Paulo, trabalhamos com um motorista que transportou o Ben’s quando eles vieram ao Brasil. Estávamos no carro falando sobre o grupo e ele disse que os conhecia, nos passou o contato e os convidamos por e-mail”, conta o pianista.
Mas nada se compara ao privilégio de gravar no estúdio que se tornou lenda graças à passagem dos Beatles, notória influência do Roupa Nova. “Já tocamos e fizemos show fora do Brasil, mas foi a primeira vez que gravamos. E a diferença de estar no Abbey Road, fora a emoção de saber que todos os nossos ídolos passaram por lá — como Beatles, A-Ha, Rolling Stones, Pink Floyd… —, é termos à nossa disposição uma sala como aquela. O som que sai de lá, com microfones antigos, valvulados, a gente já grava e pronto”, explica Ricardo Feghali.
Fonte: Correioweb
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