21 abril 2010

"Ser criança em Brasília era estar no paraíso", diz Dinho

Líder do Capital fala sobre sua adolescência, o rock da cidade e a amizade com Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Herbert Vianna

A influência de Brasília para outras bandas

Brasília faz 50 anos agora em Abril. O Renato Russo faria também 50 em Março. As duas datas são importantíssimas pra mim, e estão interligadas.

Eu morei em Brasília em duas épocas distintas da minha vida: a primeira, dos dez aos treze, e a segunda, dos dezesseis aos vinte. Pode parecer pouco, mas tudo o que eu sou hoje deriva, de uma forma ou de outra, desses anos.

O primeiro período, foi minha transição da infância à adolescência, uma época um tanto confusa pra todos nós. Quando se é criança em Brasília se tem a impressão de estar no paraíso. Passávamos o dia na rua jogando bola e andando de skate. Eu ia a pé pra escola e tinha uma sensação de absoluta tranquilidade e segurança. Medo e violência ainda não faziam parte do meu vocabulário. Na minha inocência, a cidade me parecia um lugar perfeito, sem defeitos, no meio do cerrado e longe de qualquer problema.

Aos dez, eu conheci o Dado Villa-Lobos, que se tornou meu melhor amigo. Aliás, continua sendo. Aos doze, conheço o Herbert Vianna, o Bi Ribeiro e seu irmão, o Pedro. Até hoje, todos estão entre meus melhores amigos. Através deles, eu comecei a ouvir rock. No começo eu ouvia o que eles ouviam, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, entre outros.

Compro meu primeiro disco: Jimi Hendrix tocando Cream. Lembro da correria às lojas quando o Led Zeppelin lançou o Presence. Lembro de quando o Herbert ganhou sua primeira guitarra importada. Juntou um monte de gente embaixo do bloco porque nunca tínhamos visto uma Gibson.

Aos poucos fui me afastando do gosto deles, e, embora ainda tivéssemos muita afinidade musical, fui me interessando por bandas que, pra eles, eram abomináveis, como AC/DC, Kiss e Queen. Lentamente rock ia se tornando a coisa mais importante da minha vida. Eu achava que quanto mais bandas eu conhecesse, mais bacana eu seria. Eu fazia uma competição com meu irmão pra ver quem conseguia completar o alfabeto inteiro com nomes de bandas. E por incrível que pareça conseguíamos.

Brasília, mesmo sendo a capital do país, ainda era uma cidade do interior, provinciana e isolada. O fato de termos conseguido informações musicais assim em Brasília , muito antes da internet, nos anos setenta, em plena ditadura, foi um feito surpreendente, que só foi alcançado por nos interessarmos por música com um furor religioso.

Aos treze eu passei alguns anos fora do país com meus pais e voltei aos dezesseis. Reencontro meus amigos, e os encho de histórias, dos shows que eu tinha visto, só pra saborear sua inveja.

Logo depois da minha volta, a caminho de casa, absolutamente por acaso, eu dou de cara com uma banda tocando numa calçada em frente a uma lanchonete conhecida por envenenar seus clientes.

Os caras pareciam ter descido de uma nave espacial. Cabelos coloridos, roupas rasgadas, coleiras e alfinetes por todo lado. Eu não conseguia entender uma só palavra do que o sujeito cantava; todos os instrumento e a voz estavam ligados em um só amplificador. Mas não importava, eles transpiravam energia, atitude e carisma. A banda era o Aborto Elétrico com o Renato Russo (naquela época ainda Manfredini) nos vocais, e o Fê e o Flavio Lemos na bateria e baixo respectivamente. A partir desse momento, minha vida nunca mais foi a mesma.

Virou uma questão central nas nossas vidas reencontrarmos aquelas pessoas. Percebemos que a cidade inteira, inclusive nosso bloco, estava pichado com um AE. Começamos a prestar atenção em cartazes colados pelos muros até descobrirmos onde seria o próximo show. Finalmente, após uma exaustiva investigação, descobrimos que a apresentação seria num lugar chamado Cafofo. E lá fomos nós, eu, o Dado e o Pedro...

Leia aqui o depoimento na íntegra.

Fonte: UOL

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