Maldição? De all star vermelho, baiano faz letra suicida e planeja show em cemitério
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O pai da axé music se converteu ao heavy metal. A mistura pode parecer bizarra, mas, quando o cantor baiano de Feira de Santana explica o feito tão calmamente, tal história se torna até possível. Aos 47 anos, Luiz Caldas, o cantor de "Fricote", aquela dos versos “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, agora berra a sombria letra de "Maldição".
A batida pesada veio à cabeça enquanto corria na praia da Boca do Rio, em Salvador, com o mar da Bahia de testemunha. Para ficar à altura da inspiração, bolou logo a letra sobre um suicida que não consegue se matar. A composição dá nome ao megashow que o cantor fará em 18 de setembro na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador.
Com um cemitério de cenário, ele promete fazer “o maior show de rock já visto no Brasil”. Em Salvador, o estúdio WR funciona praticamente como uma extensão da casa do cantor, já que foi neste estúdio que, há 25 anos, forjou a axé music. Assim que a entrevista terminou, Caldas assumiu o microfone para botar voz com vigor na faixa "Maria", que compõe o disco promocional "Luiz Caldas Ao Vivo", ainda sem data para ser comercializado. O álbum traz pérolas de sua carreira, como "Haja Amor", "Tieta" e "Odé e Adão", além de outras músicas que gosta de cantar, como a que gravou de Milton Nascimento e Fernando Brant. Leia o bate-papo:
R7 – Por que você entrou no mundo do heavy metal?
Luiz Caldas – Minha festa é plural. Não posso entristecer a minoria que não quer só música para tirar o pé do chão. E meu instrumento sempre foi a guitarra, inventada por Dodô e Osmar no trio elétrico. O Brasil é a terra de guitarristas como Pepeu Gomes, Armandinho, Robertinho do Recife...
R7 – O que você diz para quem se assusta com essa mudança?
Caldas – Não existe mudança. Continuo sendo o Luiz Caldas. Posso tocar o que quiser. Entrei no heavy metal por cima, fazendo bem feito. Por isso, o Andreas Kisser, o Lobão, o Tico Santa Cruz e os meninos do Angra ligaram para me parabenizar. Se você der uma chegadinha no meu MySpace verá que ele é todo de heavy metal.
R7 – Como você compôs Maldição?
Luiz Caldas – Foi correndo na praia, porque corro todo dia na Boca do Rio, vou de frente à sede do Bahia até a primeira ponte e volto. Aí ouvi a batida [cantarola o barulho inicial da música]. Na hora de botar a letra, pensei: não posso falar que “o meu amor me deixou, que eu fui para o shopping”. Eu fui para a treva. Conto a historia de um cara que quer se suicidar e mesmo assim não consegue. Isso é que é terrível. Nem se matar ele pode.
R7 – E se pensarem que você fez pacto com o diabo?
Caldas – Não tem nada disso. Eu sou yoguin. Não como carne, animal nenhum, não bebo...
R7 – Como vai ser o show Maldição?
Caldas – É uma produção caríssima e não tem apoio de ninguém. Vamos gastar três dias montando o cenário. É uma coisa cinematográfica nunca assistida no Brasil num show de rock. O palco enorme da Concha Acústica será todo cenário e vai se transformar num grande cemitério. Será totalmente pesado. Vai ser uma ópera, uma peça teatral musicada. Os quatro músicos no palco vão usar maquiagem de cinema. Não vou mostrar meu rosto. Trouxe muita coisa de Miami.
R7 – Você vai viajar com a turnê Maldição?
Caldas – Eu levo o show para onde me chamarem e me pagarem.
R7 – Por que você calçou com All Star seus famosos pés descalços?
Caldas – Me deu vontade de usar. Ganhei uma graninha e resolvi comprar. Fiquei descalço esse tempo todo...
R7 – E agora só vai andar de tênis?
Caldas – Quando as pessoas acharem que é aí não vai ser de novo. A ideia é essa. Eu, por exemplo, cortei meu cabelo por um golpe de marketing.
R7 – Foi?Caldas – Foi. Eu fiz 130 músicas e a imprensa, que deveria cuidar da cultura do país, não deu muita atenção a esse feito. De repente eu anunciei: “vou cortar o cabelo”. E toda a imprensa veio saber por quê. Aí eu contei que era porque tinha feito 130 músicas.
R7 – Como você conseguiu compor 130 músicas?
R7 – Mas de onde veio tanta inspiração?
Caldas – Aprendi com Djavan a ser um operário da música. Toco vários instrumentos e conheço muito de harmonia. Tenho 47 anos e trabalho com música há 40 anos. Em oito meses, compus com meus colegas 130 canções que resultaram em dez discos distintos [lançados em seu site no último ano]. Na verdade, foram mais, mas tivemos de ter uma peneira. Não fiz isso pensando no sucesso.
R7 – Então não foi uma jogada de marketing sua?
Caldas – Não preciso de marketing. Eu sou o inventor da axé music. Quem precisa de marketing é produto. E eu sou um artista. Preciso de respeito.
R7 – Você falou de ser o inventor da axé music...
Caldas – Você conhece alguma música de axé antes de "Nega do Cabelo Duro", que na verdade se chama Fricote?
R7 – Não.
Caldas – Então, eu sou o criador.
R7 – Então, você, como pai, dá conselhos à nova geração do axé?
Caldas – A um filho de 25 anos não se dá conselho. Você só observa... Se bem que conselho a gente só dá musicalmente. Meus discos são um bom conselho. A máxima que usei para criar a axé music é a mistura. A axé music não é um estilo, é uma democracia musical. E, depois desses 25 anos, meu filho, ela caminha com as próprias pernas e não morre nunca mais.
R7 – Daqui a cem anos qual papel você acha que vai lhe caber na historia da música popular brasileira?
Caldas – Um papel importantíssimo. Porque a minha preocupação é com a música. Eu cuido dela e ela cuidará da minha imagem.
Fonte: Portal R7
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