17 setembro 2011

Você sabe quem foi o apresentador do Rock in Rio I?

Kadu Moliterno conta como foi apresentar o Woodstock brasileiro, em 1985

“Cadê meu texto?” O ator Kadu Moliterno chegou perguntando à Cidade do Rock, no dia 11 de janeiro de 1985, para apresentar a primeira edição brasileira do Rock in Rio. Mas não havia texto algum. A missão de Kadu era subir ao palco do festival e apresentar bandas e artistas para a plateia. Ele não sabia o que iria acontecer. Aliás, ninguém sabia. De certo, só os nomes dos convidados, artistas como AC/DC, Scorpions, James Taylor, Ozzy Osbourne, Queen, Os Paralamas do Sucesso, Ivan Lins, Erasmo Carlos, Rita Lee, Moraes Moreira, Barão Vermelho, entre outros.

O que aconteceu depois que Kadu anunciou Ney Matogrosso, o primeiro a se apresentar, virou história. Em entrevista, Kadu Moliterno, que à época do Rock in Rio I tinha 33 anos e muito mais cabelo, relembrou algumas passagens do festival, como a apresentação de Erasmo Carlos, em meio a uma "chuva" de vaias e latas jogadas pelos metaleiros que estavam ali para ver um som mais pesado. “Sobrou até para mim. Tive que me esconder atrás de uma caixa de som”, diz Kadu, hoje aos 59 anos.


O ator, que atualmente vive o personagem Nelson em Malhação, diz que gostaria de assistir aos shows do Rock in Rio IV, que começa no dia 23 de setembro, mas ainda aguarda um convite da produção do evento. E ele pede mesmo. “Pode escrever aí que estou pedindo ingressos”, diz. Vale até lançar uma campanha: #ingressosparaoKadu.


ÉPOCA - Como surgiu o convite para apresentar o Rock in Rio?
Kadu Moliterno –
Eu já fazia novelas, apresentava o programa Geração 80 (programa musical da TV Globo) e o Vídeo Show. O Medina (Roberto, criador do festival) me procurou e fez o convite. O cachê era bom. Eu topei.


ÉPOCA - Você tinha ideia do que seria, de fato, o festival?
Kadu –
Quando eu cheguei lá e vi milhares de pessoas eu pensei: é o Woodstock brasileiro.


ÉPOCA - Qual era exatamente a sua função como apresentador?
Kadu –
Fui para a Cidade do Rock com a minha moto. Cheguei lá e comecei a procurar meu texto. Queria saber o que eu teria que falar, como apresentar. A produção me disse que não havia texto algum, que era para eu subir ao palco e apresentar as atrações. Fiquei naquela adrenalina. Na hora de apresentar o primeiro show, concentrei-me e me veio à cabeça a Elis Regina, que havia morrido três anos antes. Resolvi dedicar o Rock in Rio para ela.


ÉPOCA - As vaias dos metaleiros para alguns artistas se tornaram históricas no Rock in Rio I. Você também foi alvo deles?
Kadu –
Fui, sim. No “Dia do Metal” escalaram o Erasmo Carlos. Quando eu subi ao palco e o anunciei, vi um monte de latas e garrafas vindo na minha direção. Tive que esconder atrás de uma caixa do som. Nas primeiras músicas, o Erasmo teve que se proteger, cantar meio de lado. A energia que vinha da plateia nesse dia era muito pesada. Vi diversas brigas também.


ÉPOCA - Você conseguiu curtir algum show? Conheceu algum artista internacional?
Kadu
– Nos bastidores eu vi todos eles. Tanto o Freddie Mercury, que era considerado o grande astro do momento, quanto Os Paralamas do Sucesso, que estavam começando. Lembro do Herbert Vianna com seus óculos coloridos...


ÉPOCA – Teve alguma apresentação que marcou mais?
Kadu –
O show do Queen, sem dúvida, foi o auge do festival. Aquele coro de milhares de pessoas cantando as músicas do grupo. Foi emocionante. Lembro também da apresentação da Rita Lee. Havia um boato de que o mundo acabaria, que Nostradamus havia previsto que o mundo chegaria ao fim durante uma grande concentração de pessoas. Minha mãe ficou preocupada, pediu para eu tomar cuidado. De repente, durante a apresentação da Rita, aconteceu um curto-circuito no palco. Eu peguei minha moto e fui embora. Achei que o mundo estava realmente acabando (risos).


ÉPOCA - O que aquela juventude que estava ali queria? Eram jovens diferentes dos de hoje?
Kadu –
No Rock in Rio tinha uma sensação de liberdade no ar. O Brasil estava saindo de uma ditadura militar. Mas acho que os jovens são iguais em qualquer época. Eles sempre querem alguma mudança. Porém, hoje, os movimentos nascem pela internet. Não tem a figura de um líder. O líder são as redes sociais. Na minha época de adolescente, a gente ia para a rua lutar contra a ditadura. A polícia e o governo sabiam quem estava nas ruas. Agora, os jovens começam uma revolução pela internet. Às vezes eu brigo com meus filhos (Kadu tem três filhos, de 14, 18 e 19 anos) para eles saírem da rede, praticar esportes. Pelo menos isso eu tenho conseguido.


ÉPOCA - Você acha que ser o apresentador ajudou a conquistar a empatia dos jovens e, depois, emplacar o sucesso como Juba em Armação Ilimitada (a série começou quatro meses após o Rock in Rio, em maio de 1985)?
Kadu –
Não acredito. Eu já falava com o jovem quando apresentava o Geração 80. O Medina deve ter feito alguma pesquisa que resultou no meu nome. A Armação foi ideia minha e do André (di Biasi, o Lula do seriado). Criamos o seriado na praia, conversando.


ÉPOCA – Você pretende ir a este Rock in Rio? Quer ver algum show específico?
Kadu –
Gostaria de ir e levar meu filho para ver os shows do Coldplay, Red Hot Chili Peppers e Stevie Wonder. Mas estou batalhando por um ingresso vip. Detesto tumulto, por isso queria algo mais vip. Escrevi para o Niemeyer (Luiz Oscar, produtor do Rock in Rio I), mas até agora ele não me respondeu. Acho que mereço um convite, afinal participei do primeiro Rock in Rio, que foi o que ficou para a história. Pode escrever aí que estou pedindo ingressos...

Fonte: Revista Época

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